Conselhos Consultivos e a profissionalização de empresas familiares
Ricardo Paz Gonçalves Ricardo Paz Gonçalves

Conselhos Consultivos e a profissionalização de empresas familiares

Publicado em 22 de janeiro de 2016

Conselhos Consultivos e a profissionalização das empresas

Você já ouviu falar em Conselho Consultivo? Conselho Consultivo é uma prática de governança corporativa. Pode se prestar a diversas finalidades e ser definido como um fórum de atribuições geralmente não deliberativas (ou seja, sem poder de voto) que visa discutir e aprimorar a estratégia, fiscalizar e/ou revisar as práticas de gestão do negócio.

Normalmente atua como um órgão intermediário entre a gestão e os sócios do negócio. Sua pauta são assuntos técnicos e estratégicos para os quais a gestão deva ser apoiada por profissionais que normalmente não compõem seus quadros funcionais e conte com a legitimidade da sociedade como um todo.

Em outras palavras, um Conselho Consultivo presta serviços à empresa, representando os interesses dos sócios – notadamente os que não atuam na gestão do negócio – e apoiando aqueles que, sócios ou não, atuam na gestão. É tipicamente encontrado em empresas familiares, e suas feições devem ser customizadas de modo a se adequar à cultura, às necessidades e às peculiaridades de cada empresa.

Contraponto técnico

Um exemplo de aplicação é quando alguns dos sócios familiares confiam a outro(s) a gestão do negócio, mas desejam contrabalancear os poderes a ele(s) delegados com um contraponto técnico e legitimado por eles. Nesse caso, o Conselho seria formado por profissionais de mercado que fariam reuniões periódicas (normalmente trimestrais) com os gestores, e talvez os próprios sócios, para analisar e fiscalizar os demonstrativos e indicadores de resultados do negócio e aconselhar quanto a investimentos e ao planejamento estratégico da empresa.

Outro modelo é quando os sócios desejam direcionar a empresa para o caminho da profissionalização. Um Conselho Consultivo com esse direcionamento atuaria com foco na adequação da empresa às melhores práticas de mercado, servindo muitas vezes como estágio transitório para a implementação de um Conselho de Administração com escopo e atuação mais rígidos e profissionalizados.

Alinhamento com os objetivos

O importante é que o Conselho esteja alinhado com os objetivos de médio e longo prazo da empresa em que atua. Se o Conselho estiver sendo implantado em uma empresa em crise, por exemplo, o objetivo poderá ser superar a situação. Se a Sociedade estiver iniciando um processo de governança corporativa e sucessão familiar, o foco do Conselho poderá ser consolidar essas práticas.

No mesmo sentido, os objetivos podem ser gestão de riscos, aumento de performance, melhora do relacionamento ou da atração de investidores, etc. Dependendo do porte da empresa, é comum a formação de Comitês Técnicos com diferentes finalidades.

O principal requisito a ser exigido de um conselheiro é a independência. Para que possa efetivamente agregar ao negócio, é importante que ele não tenha outro vínculo de remuneração com a empresa se não a própria atuação no Conselho. O conselheiro deve ser capaz de agregar visão, conhecimento e experiências de outras realidades para o contexto da empresa. Ademais, é importante ter tempo e motivação para um efetivo envolvimento com o negócio; do contrário, o conselheiro não fará mais do que dar palpites.

Tendência crescente

Embora a criação de Conselhos Consultivos seja uma tendência crescente face às vantagens que traz para as empresas, a ampliação dessa prática ainda esbarra fortemente na rejeição de alguns empresários. Abrir as práticas de gestão e os números do negócio a terceiros implica lidar com sentimentos negativos para alguns, como o medo do apontamento de falhas na sua gestão ou de parecer “fraco” ou incapaz de gerir e liderar seu próprio negócio.

De fato, não é algo a que todos consigam se adaptar. Pessoalmente, tenho visto que os adeptos a práticas como esta têm em comum o fato de ter uma visão clara, profissional e de longo prazo para o seu negócio. São pessoas que, em outras palavras, conseguem enxergar o negócio como um ente dissociado de sua própria pessoa.

Atualmente sou membro do Conselho Consultivo de quatro empresas familiares, sendo que duas possuem atuação no agronegócio. Compartilho experiências sobre essa prática com meu sócio Ben-Hur, que tem função semelhante em outras empresas, e tenho tido a oportunidade de constatar na prática os relevantes benefícios que os Conselhos proporcionam para as empresas e famílias.

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