A Sucessão na Atividade Rural
Luis Kobielski Luis Kobielski

A Sucessão na Atividade Rural

Publicado em 20 de novembro de 2012

 

A Sucessão na Atividade Rural – Medo e desinformação

É muito mais comum do que se possa imaginar a sensação de medo diante da questão sucessória na atividade rural, os pais tem como certa a perda de poder sobre os seus bens e essa sensação muitas vezes acaba por bloquear totalmente a discussão sobre o assunto com a família, o medo de não poder gerenciar o seu próprio futuro acaba sendo um dos principais paradigmas que as famílias gaúchas enfrentam quando se trata do assunto sucessão.

Na verdade o processo sucessório não significa perda e sim continuidade dos negócios, não mais da forma patriarcal ou matriarcal onde apenas uma pessoa decide inclusive o futuro das demais, nossa experiência tem nos mostrado que essa receita não tem dado bons resultados e que aquelas famílias que resolveram enfrentar o assunto com outra visão, compreendendo principalmente as diferenças que são normais entre os componentes da família e que muitas vezes são exatamente essas diferenças que enriquecem as relações societárias, não podemos ficar parados no tempo somente pensando em separações futuras, pois na maioria das vezes o que vê é o sucesso de alguns, a bancarrota de outros e as vezes até a bancarrota de todos, pois a visão de que irão trabalhar cada um no seu negócio por muitas vezes acaba por enfraquecer a estrutura já existente e dificulta muito a divisão dos bens.

É bem verdade que não podemos pretensiosamente que os herdeiros tenham que ser sócios, se ser irmão já não é tarefa fácil no âmbito negocial, imaginem sócios com todas as influências externas que todos os mortais possuem, esposas, filhos, amigos enfim uma gama de variáveis individuais que exigem de todos os herdeiros grandes negociações no sentido de assumir o papel de sócio, como diz um autor conhecido, quem acha que casamento é fácil é porque nunca teve um sócio, mas muitas vezes é a sociedade fortalecida que mantém o negócio funcionando bem, com a estrutura a disposição e não mutilada por separações que não tiveram a coragem de tentar construir uma nova forma de exploração da propriedade, para isso é necessário muito diálogo e concessões mútuas, coisa que não é fácil mas muitas vezes necessária.

A atividade rural hoje deve ser compreendida como um negócio qualquer, onde são necessárias várias expertises que muitas vezes não estão concentradas em um só individuo que muitos pretensiosamente acreditam que as tem em tom concentrado, essas pessoas, se existem, são raras. Não queremos impor que os herdeiros tenham que ser sócios, isto também é uma utopia, mas se no futuro eles não forem trabalhar juntos é necessário que o projeto da sucessão tenha isso como norte, pois as negociações entre os herdeiros deverão ter como norte o trabalho em separado e aí inicia a discussão da divisão futura dos bens, quem vai ficar com o que? A partir deste momento já não estaremos mais tentando construir uma sociedade e sim planejando uma separação futura, pois já ficou decidido com a família que no futuro não trabalharão juntos.

Mesmo com esse cenário futuro é extremamente importante iniciar a discussão sobre o assunto buscando de forma profissionalizada o entendimento entre as partes, antecipando conflitos futuros é verdade, mas que com certeza trarão bons resultados para todos, tanto financeiros como de convivência familiar, porque não há nada mais triste que uma família destroçada por motivos materiais que não foram resolvidos por falta de maturidade e entendimento entre os seus membros. É necessário no mínimo investir parte do tempo em pensar sobre o assunto, pois o futuro poderá reservar surpresas que muitas vezes serão de difícil solução e entendimento.

Ben-Hur Risso Xavier

Sócio Diretor da AFFECTUM – Auditores e Consultores S.S.

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