Saiba como conflitos familiares na sucessão podem quebrar seu negócio
Ricardo Paz Gonçalves Ricardo Paz Gonçalves

Saiba como conflitos familiares na sucessão podem quebrar seu negócio

Publicado em 19 de setembro de 2016

A história da empresa familiar se confunde com a história do capitalismo. Famílias nas mais diversas culturas e etnias se organizam ao longo dos séculos para exercer a atividade empresarial e colecionaram sucessos e fracassos. Parece certo que as empresas familiares tem características que as impulsionam até certo ponto, a partir do qual, sem a devida preparação, a família começa a ser deletéria para o negócio. O ditado “pai rico, filho nobre e neto pobre” ilustra bem esse fenômeno.

No agronegócio isso não é diferente. Dentre as características das empresas familiares creio que a mais potencialmente nociva seja a capacidade que as famílias tem de gerar em seu seio conflitos que acabam por minar e por vezes inviabilizar o negócio como um todo. Entenda em três exemplos como isso pode acontecer:

 

Crise de sucessão

Ocorre quando o patriarca ou matriarca, fundador ou líder incontestável do negócio vem a faltar e não há a família uma organização voltada a definir como as coisas terão continuidade nem como o patrimônio será dividido. É um momento onde normalmente ocorrem muitos conflitos que estavam ocultos sob a autoridade daquele que se foi. Descobre-se então que havia uma falsa sensação de harmonia, aguardando a falta da principal liderança para se transformar em um conflito.

Pegos de surpresa os herdeiros normalmente querem impor aos outros aquilo que imaginavam ser o cenário mais adequado para o contexto em que se encontram e ainda acertar contas correntes do passado. Profissionais externos e agregados acabam influenciando e complicando ainda mais essa torre de babel e tudo isso ocorre em um momento de grande descapitalização causado pelos impostos e despesas de inventário.

Neste contexto o negócio precisa se reinventar do ponto de vista de sua administração e administrar os conflitos com racionalidade e comprometimento com o bem comum. Ocorre que sem a influência dos sucedidos isso raramente acontece. O saldo é que muitos quebram e os que conseguem sobreviver saem disso machucados emocional e financeiramente.

 

Crise de liderança

Irmãos ou primos ligados a negócios familiares herdam invariavelmente um patrimônio e uma sociedade. É uma sociedade imposta, pois apesar de se tratarem normalmente de pessoas muito diferentes entre si, terão elas de tomar decisões acerca dos rumos de um negócio que será de todos. É preciso portanto fazer a transição de um modelo de negócio que pertencia a um dono – que portanto mandava sozinho – para um modelo de negócio de vários donos – que portanto mandam em conjunto.

É como se um país deixasse de ser uma monarquia para se tornar uma democracia, e isso não é simples pois quem esta envolvido no processo raramente tem a clarividência de abstrair suas razões pessoais e enxergar o todo com tamanha racionalidade.

Como todos se enxergam como donos e não como sócios, e como todos são normalmente muito diferentes entre si, pois não tiveram a oportunidade de se escolher, é natural que não ocorra entre eles uma aceitação natural a novas lideranças, e na falta de um processo organizado para tomada de decisões como estas só resta as partes o conflito, onde invariavelmente todos acabam perdendo.

Crise de identidade

O que faz uma empresa ou uma fazenda prosperar e outras fracassarem é essencialmente o modo como fazem as coisas, ou seja, a cultura que a norteia. Essa cultura é criada e desenvolvida pela(s) geração(ões) que ajudaram a moldar o negócio. O problema ocorre quando ela não é transmitida para as gerações subsequentes e o negócio acaba perdendo a identidade.

Em um determinado momento o negócio (empresa ou fazenda) deixa de ser visto como algo em favor do que a família deva trabalhar para se tornar algo que deve exclusivamente servir a família, a famosa “vaca leiteira”. Essa mudança de paradigma gera conflitos principalmente entre aqueles familiares que trabalham no negócio e aqueles que não trabalham, e frequentemente acabam trazendo consigo a cultura da aristocracia, o nepotismo, e a falta de meritocracia.

Esse ciclo deve ser quebrado com um trabalho de preservação e transmissão dos valores, da memória e da cultura que norteou o sucesso que não deve se confundir com conservadorismo nem com acomodação e sobretudo com a profissionalização da família.

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